As pinturas rupestres
foram produzidas pelos primeiros habitantes do Brasil. E estes habitantes
deixaram nas pinturas registradas, muito provavelmente segundo nosso entender,
suas ações sociais neste registro visual. Uma das ações sociais seriam as
educativas.
As transmitiram
por meios educativos, acreditamos nesta tese, pois as pinturas repetem-se por
extensões enormes e também porque foram identificados vários estilos de pintar
os mesmos signos. Mostrando desta maneira que houve trocas culturais e de
aprendizado entre os grupos ou mesmo dentro dos grupos que aqui viviam.
Como afirma
Anne-Marie Pessis, que “Durante o período inicial do estilo Serra da
Capivara, a região era pouco habitada. Sabemos que outros grupos, minoritários,
partilharam o mesmo espaço junto às comunidades culturais de Serra da Capivara.
Grupos que não tinham o domínio da técnica gráfica, mas que incorporaram às
suas culturas esta prática rupestre das comunidades dominantes. Estas
populações seriam responsáveis por outra tradição de pintura rupestre existente
no Nordeste do Brasil, a tradição Agreste”. (PESSIS, 1989: 14/15).
As tradições de
rupestres pinturas em São Raimundo Nonato permitiram incorporarem idéias,
técnicas e práticas nas sociedades que não as tivessem , como era o caso da
tradição Agreste, que surge por influência da tradição Nordeste¸ representada
em sua subtradição Serra da Capivara.
As pinturas
rupestres seriam o registro da história social dos habitantes daquele período.
Onde lhes era possível afixarem seus costumes e práticas cotidianas. Costumes
que permitiriam outros grupos ou futuras gerações de seus próprios grupos
utilizassem-se destas informações registradas.
Estas ações
sociais que retratariam, então, a nosso ver, parte do cotidiano da época como
caca, danças, rituais, lutas territoriais, animais que viviam naquele momento –
um cotidiano muito parecido com o nosso atualmente, onde precisamos lutar para
garantir o que nos pertence por direito – dos grafismos puros (que não temos
condições de interpretar), cenas de sexo e cenas de brincadeiras, entre outras.
Com certeza, estes
locais são, em grande parte, reocupados, pois estão carregados de informações
sobre o entorno que foram passadas e/ou estão ali representadas,
conseqüentemente os novos ocupantes poderiam decodificá-las. Como aponta Pedro
I. Schmitz, assim: Os principais sítios localizam-se em abrigos rochosos,
grutas e cavernas e indicam certa estabilidade de (re) ocupação, tanto nas
camadas sedimentares quanto nas pinturas das paredes.(SCHMITZ, 1999: 57).
Era de uma necessidade
sem precedentes deter os conhecimentos a respeito dos meios de subsistência,
pois não se poderia perder tempo diariamente em busca da caça, pesca e/ou
coleta de frutas. Por este motivo às pinturas teriam o papel de retratar com
precisão os locais onde foram desenhadas informando o que havia naquele meio.
Assim Niéde Guidon afirma que A base econômica continuava sendo a caça, a
coleta e a pesca: as pinturas rupestres retratavam com detalhes a evolução
sociocultural desses grupos durante pelo menos 6 mil anos, o que constitui um
dos mais longos e importantes arquivos visuais sobre a Humanidade disponível,
hoje, no mundo.(GUIDON, 1998: 43/44).
Para E. Adamson
Hoebel quase todas as inter-relações sociais são dominadas pela cultura
existente. Não temos notícia de nenhum grupo humano sem cultura. ..., uma
sociedade humana é mais do que mero agregado expressando comportamento
instintivo. A sociedade humana é uma população permanentemente organizada de
acordo com sua cultura.(HOEBEL, 1982: 222/223).
Ao julgar que as
comunidades humanas são compostas por grupos intercambiantes (inclusive como
nós hoje, veja a globalização), cujos membros fazem parte de um todo mestiço
nas relações existentes entre si, principalmente no caso da cultura, cuja
produção executada por esses homens/mulheres é um material exemplar para as
pinturas rupestres.
Se todos os grupos
humanos têm sua própria cultura e interagem significa que, além de se
manifestarem culturalmente, ainda transmitem seus conhecimentos. Por meio da
cultura produzida por estes grupos humanos das mais diferentes formas
estéticas, e por meios educativos.
A partir destas
cenas podemos, então, depreender que houve sim no território brasileiro, como
em outros locais do mundo, história e educação muito antes de 1500. O Brasil
com sua imensa extensão territorial teria também uma grande complexidade de
formas, estilos de pinturas e locais pintados. Auxiliando a comprovar que as
escolas rupestres teriam se disseminado.
Entendemos as
pinturas rupestres foi uma das mais importantes, (senão a mais), formas sociais
de garantir a transmissão cultural e pedagógica da época. E que contribuiu para
a interação e a relação entre humanos e destes com a natureza. E sobreviveu até
hoje para nos prestando o testemunho do que foi a sociedade de ontem no Brasil.
As pinturas nos
mostram, desde muito tempo, que devemos lutar e muito para que a nossa
sobrevivência garanta-se. E que sem esta nada conseguimos. E, ainda, que por
meio da educação social esta luta torna-se mais fácil de ser vencida.
O humano só se faz
em sua plenitude por meio de lutas. E os primeiros habitantes do Brasil já
sabiam disto – assim como também nos sabemos. Para que possamos compreender
melhor a nossa própria historia antiga e ver nela um reflexo para o nosso
cotidiano. Façamos em nossas vidas muitas lutas políticas, sociais, culturais e
para a sobrevivência. Como já fazemos em nossas praticas cotidianas de
educadores sociais que todos somos. Façamos, também, nossas festas, viagens e
passeios, entre outras praticas sociais em nome de nossos prazeres. Como nos
mostram os antigos habitantes de nosso Brasil que viveram muito bem,
relacionando-se entre si, com o meio ambiente e com os outros grupos humanos
que aqui viveram. Diferentemente o que pensamos!!!
Você
pode estar conferindo este artigo acessando o site:
http://www.espacoacademico.com.br/041/41cjustamand.htm
Breve
opinião:
As
pinturas rupestres brasileiras além de serem os primeiros registros que
comprovam a existência do homem no Brasil, podem também ser vistas como uma
forma de educação entre os povos de um mesmo grupo ou grupos diferentes e que
perduram até hoje nos permitindo aprender sobre o que aconteceu a milhões de anos
atrás.
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